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Placa em alemão aponta para local onde mães podem abandonar filhos |
Diferente
das rodas de bebês rejeitados de outros séculos, o equipamento moderno difere
dos cilindros de madeira instalados em paredes de conventos ou igrejas
medievais. Nos
equipamentos antigos os bebês indesejados eram depositados pela parte de fora e
depois girados para dentro dos estabelecimentos.
Embora
tenha a mesma finalidade, o novo sistema consiste em uma espécie de berço
aquecido, monitorado por enfermeiras e disposto em locais próximos a hospitais
com fácil acesso da população.A prática,
entretanto, continua sendo duramente criticada pela ONU, uma vez que violaria
os direitos das crianças.
Em Berlim,
por exemplo, uma placa localizada ao final de uma rua de um bairro tranquilo
chama atenção de moradores e visitantes, apontando para um caminho entre as
árvores. Na placa,
lê-se a seguinte mensagem "Babywiege" (berço). No final
deste caminho, há uma escotilha de aço com uma alça. Dentro dela, uma espécie
de berço, com cobertores para acomodar o recém-nascido, possivelmente
indesejado pela família. O local é
seguro e a temperatura ideal para um bebê. Há também uma carta deixada pelos
responsáveis pela instalação do berço, caso o depositante se arrependa de sua
decisão e queira a criança de volta.
Duas vezes
por ano, alguém - possivelmente uma mulher - percorre tal trajeto até os fundos
do Hospital Walfriede. Para
fontes ligadas ao tema, trata-se, normalmente, de um caminho sem volta. A
criança indesejada crescerá sem nunca conhecer a mãe. O processo
é anônimo, ou seja, não se conhece a identidade do depositante, por mais que
tal prática seja mais comum entre as mães. Mas é
justamente este argumento - o de confidencialidade - que é criticado por quem
condena a iniciativa.
Crítica
Críticos
afirmam que a roda pode ser usada por pais inescrupulosos ou até cafetões para
pressionar as mães a abandonar seus bebês. "Estudos
na Hungria mostram que não são necessariamente as mães que depositam seus
filhos nessas caixas, mas, por outro lado, parentes, cafetões, padrastos e até
mesmo os pais biológicos", disse em entrevista à BBC Kevin Browne, da
Universidade de Nottingham.
"Roda" moderna é similar à medieval; bebê é depositado dentro da escotilha. |
Para o
estudioso, ao facilitar o processo de abandono de um bebê, as mães ficam menos
suscetíveis a receber a ajuda necessária em uma situação de grande trauma
emocional e, até mesmo, de risco para sua saúde.
Não há
consenso, contudo, sobre o argumento levantado por Browne. Partidários da
medida afirmam que estão oferecendo a mães desesperadas uma maneira segura de
abandonar filhos indesejados. Recentemente,
uma mãe alemã foi condenada por atirar seu filho recém-nascido da janela do
quinto andar de um edifício.
Crescimento
Situações
como essa impulsionaram a prática da "roda" moderna na Europa Central
e Oriental, desde os países bálticos, passando por Alemanha, Áustria, Polônia,
Hungria, República Tcheca até a Romênia. A lei de
alguns desses países encoraja o sistema. Na Hungria, por exemplo, a legislação
foi alterada para permitir que a iniciativa fosse considerada legal, nos mesmos
padrões da adoção, enquanto que o abandono de um recém-nascido continua sendo
considerado crime. Kevin
Browne, da Universidade de Nothingham, acredita que a tendência de crescimento
é maior em países com passado comunista ou majoritariamente católicos, onde o
estigma da mãe solteira ainda é muito forte.
Caixas para o abandono de bebês por país
Alemanha - 99
Polônia - 45
República Tcheca - 44
Hungria - 26
Eslováquia - 16
Lituânia - 8
Itália - 8*
Bélgica - 1
Holanda - 1**
Suíça - 1
Vaticano - 1
Canadá - 1
Malásia - 1
*aproximadamente
**previsão
Fonte: Comitê dos Direitos das Crianças das Nações Unidas
Para Gabriele Stangl, do Hospital Waldfriede
em Berlim, que recebe dezenas de recém-nascidos por ano, a prática moderna da
"roda" salva vidas, e, diferentemente do que pensa Browne, também
aumenta os direitos das crianças. Segundo ela, o sistema conta com todas as
facilidades de uma maternidade comum. Uma vez que o bebê é depositado no berço
improvisado, um alarme soa e uma equipe de médicos chega para checar o estado
de saúde do recém-nascido. A criança, então, é tratada no hospital e
nutrida até ser encaminhada ao sistema legal de adoção. Neste período inicial,
as mães têm o direito de buscarem de volta seus filhos caso se arrependam.
Porém, uma vez feita a adoção, não há mais recurso.
Arrependimento
Não são raros os casos das mães que decidem
voltar atrás em sua decisão. Uma delas contou à BBC que, como engravidou muito
jovem e não tinha o apoio do pai da criança, ficou em estado de choque após o
nascimento e decidiu colocar o filho na "roda". Ela, entretanto, se
arrependeu uma semana depois. Em uma única "roda" em Hamburgo, no
norte da Alemanha, 42 bebês foram abandonados na última década. Desse montante,
17 mães contataram os organizadores e 14 buscaram de volta seus filhos. "Em 1999, cinco bebês foram abandonados
na cidade e três deles morreram", disse Steffanie Wolpert, uma das
fundadoras do sistema de Hamburgo. "Então, nós pensamos em um jeito de
contornar essa situação e permitir a sobrevivência dessas crianças", acrescentou. Mas os críticos, como o Comitê das Nações
Unidas para os Direitos das Crianças, não estão convencidos dos benefícios do
sistema. Eles alegam que a iniciativa é um retrocesso às práticas medievais. Segundo Maria Herczog, uma psicóloga infantil
que integra o comitê, uma alternativa mais eficiente à "roda" moderna
seria entender e ajudar as mães em circunstâncias difíceis. "Essa prática envia uma mensagem errada
às mulheres de que têm o direito de continuar escondendo a gravidez, dando a
luz em circunstâncias pouco conhecidas e abandonando seus bebês", disse
Herczog.
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