Levantamento realizado pelo jornal O Globo e pela consultoria IHS Automotive mostra que os carros vendidos no Brasil custam muito mais que em outros países. A diferença nos preços pode chegar a 106%, como no caso do Honda Fit, que é vendido no Brasil por R$ 57.480, enquanto que na França o modelo equivalente sai por R$ 27.898.
A comparação foi realizada entre Brasil, EUA, Argentina, França e Japão e mostra que, ao contrário do que se pensa, os custos (mão de obra, matérias-primas, logística) assim como os impostos, não explicam os altos preços dos veículos no mercado brasileiro, mas sim a alta margem de lucro das empresas automobilísticas.
Margem de lucro estratosférica
Os custos de um carro produzido no Brasil equivalem a 58% de seu preço na venda, enquanto que nos EUA eles vão de 88% a 91%. Nos outros países os custos chegam a 79% do preço do veículo. Já os impostos no Brasil são proporcionalmente mais altos, formando 32% do preço, enquanto nos EUA vão de 6% a 9% e nos outros países ficam em 16%. Mas é a margem de lucro que explica os altos preços. Aqui, ela chega a 10%, contra 3% nos EUA e 5% nos outros países.
No Brasil, o lucro ganho pelas montadoras por veículo vendido, de 10%, não tem comparação com nenhum outro lugar do mundo. "Lucro de montadora no Brasil é maior que em qualquer lugar do mundo, pelo menos o dobro", confirmou o diretor-gerente da consultoria IHS Automotive, que realizou o estudo para o jornal. O diretor apontou como motivo para os alto preços a concentração do mercado nas quatro grandes montadoras (Ford, GM, Volks e Fiat). Ou seja, o monopólio do mercado, um dos maiores do mundo, fica nas mãos de grandes empresas que podem ditar o valor dos carros.
Não há motivo para demitir
Neste dia 29 representantes das montadoras e o governo se reuniram em Brasília para tratar de uma reivindicação das empresas: a prorrogação da isenção no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que vence no dia 31. É quase consenso que o governo vai se dobrar à vontade das montadoras, abrindo mão de mais R$ 2 bilhões em impostos. Alguns representantes das montadoras pedem até a extinção completa do imposto. Argumentam que, num cenário de crise despontando, a isenção garantiria as vendas e os empregos.
A verdade, porém, é que, se as montadoras quisessem reduzir os preços para impulsionar as vendas, bastaria abrir mão de parte dos lucros. No entanto, para que fazer isso se o governo já arca com a redução do preço do carro? A isenção do IPI, assim, apenas incrementa os já altos lucros das grandes montadoras que, se não bastasse, ainda demite, como na região do ABC paulista ou na GM de São José dos Campos (SP), onde a montadora ameaçou demitir 2 mil operários e, após mobilização, aceitou colocar 925 funcionários em layoff (contrato de trabalho suspenso) até 30 de novembro.
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de veículos Automotores) argumenta que a redução do IPI foi responsável pela geração de 2,7 mil novos empregos. Segundo a própria entidade, a isenção do imposto deixou de arrecadar pouco mais de R$ 20 milhões por dia entre junho e agosto, o que dá no total algo aproximado a R$ 1,2 bilhão nesses dois meses. Dividindo isso com o número de empregos que o setor diz criado, chegamos ao custo de mais de R$ 444 mil por emprego supostamente gerado. Um custo irreal de quase meio milhão por posto de trabalho.
Isso mostra o cinismo de empresas como a GM, que realiza um trabalho de chantagem sistemática em São José dos Campos, ameaçando demitir caso os trabalhadores não aceitem banco de horas e a redução dos salários. E revela como o governo Dilma prefere subsidiar os lucros de grandes multinacionais ao invés de investir em serviços públicos, que poderiam ao mesmo tempo gerar empregos e voltar em benefícios à população.
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