domingo, 19 de agosto de 2012

Autonomia em Questão: Carta de um Professor do IFRJ


POR QUE DEFENDO O VOTO UNIVERSAL NAS ELEIÇÕES PARA REITOR NO  IFRJ

A pedra de toque da autonomia universitária como também a dos Institutos Federais de Tecnologia é a eleição do reitor, em processo que principia e termina no âmbito restrito de suas respectivas comunidades. Assim fazem algumas universidades e têm muito mais liberdade da ação que as públicas. Um reitor escolhido, como no nosso caso, de uma lista tríplice, pode ser independente, porém à custa de conflito permanente com o governo. O ideal seria que o governo não interferisse em nossa autonomia respeitando o reitor eleito e indicado livre e soberanamente pela comunidade acadêmica. Acontece, porém, que esta ideia é vista com indiferença, temor e ódio por muitos membros das comunidades acadêmicas ( é o medo à liberdade de Sartre). Por outro lado, não há como leva-la adiante com a fraqueza atual dos movimentos coletivos. Isso posto, vem a questão da eleição. Houve época em que a lei vigente mandava que se respeitasse a ponderação   de 70% para o segmento docente, na lógica de os professores serem os senhores e donos da verdade política, acadêmica e administrativa da gestão (“participativa”) de seus respectivos centros universitários. Sejamos justos: é a mesma lógica da paridade. No caso do IFRJ, o voto de um servidor  professor vale mais que o de um servidor técnico- administrativo e mais do que o de 20 alunos. Por que razão um técnico-administrativo e, muito menos um estudante, iriam se interessar numa eleição em que são considerados como cidadãos de 5ª categoria? Claro está que a intenção por trás desse plano maquiavélico é a de deixar os respectivos centros ( universidades e institutos) sob a tutela exclusiva dos professores, que constituem camada social mais próxima do poder e portanto, mais suscetível à cooptação( estamos tendo a comprovação cabal de tal assertiva, pelo descaso com que tratam o segmento técnico-administrativo nesta greve mais do que oportuna). O  atual governo é um exemplo da largura e  retidão da estrada entre as instituições de Ensino e o poder, haja vista o estado atual de nossas negociações, digo, tentativas de negociação com o governo. 

Não há como fugir da conclusão: “ só se modifica politicamente essa situação se a eleição for feita pelo voto universal, uma cabeça um voto!”. Isso podemos fazer aqui no IFRJ. Basta ter  vontade.

Absurdo, dirão alguns  elitistas ou não. Nem tanto, retorquirão outros. Algumas universidades já realizam este tipo de pleito há bastante tempo. Por que razão não se faz assim aqui no IFRJ, em consulta informal ( à margem da legislação vigente) para indicação do reitor? O que falta? Coragem? A maior vantagem, seria: a possibilidade de eleição com participação maciça de todos e com o compromisso, também maciço e irretratável, do reitor indicado(o que alguns legalistas de plantão acham que vão conseguir com suas retóricas afiadas  a serviço do poder). Com eleição desse tipo haveria força política poderosa para fazer o Conselho Superior curvar-se aos desejos expressos pelo corpo social. Os conflitos internos não desapareceriam. Mas para catalizá-los estariam audíveis as vozes “roucas” das salas de aula, repartições, laboratórios, corredores, pátios e arredores de nossa estimada instituição. Qualquer outra forma de eleição, maquilada com esta ou aquela pintura, é exercício enganoso e inútil de envergonhadas e cínicas forças conservadoras e elitistas que querem passar por democráticas e até mesmo populares...

Mais importante que a forma da eleição é o seu conteúdo. Qualquer eleição é boa para eleger reitoria que serve ao governo, que faz a política de interesse do capital interacional e seus asseclas nacionais, que querem os grandes centros públicos de excelência no Ensino, empresariados e depois empresariais (Como querem fazer com o nosso IFRJ). Porém, é preciso, se ter outra eleição para ter reitoria diferente; que não fique no campo do governo nem discuta com a lógica do governo; que quer manter seu Ensino público e gratuito e de qualidade, com mais e melhores cursos; com projeto responsável de expansão; que estabeleça mecanismos efetivos para evitar a evasão e lute efetivamente para conquistar autonomia plena; que resista às normas, portarias, ordens que arrebentam com sua autonomia, como a limitação que existe hoje para o segmento dos técnicos-administrativos; e cuide também da elevação dos salários, das carreiras de seus servidores; que valorize moral e materialmente os seus técnicos administrativos; que não deixe abandonados os aposentados; que execute programas de extensão com os excluídos e marginalizados; que exija mais verbas para a educação...

ELEGER ESTA REITORIA VALE A PENA; O RESTO É ESPERTEZA E OPORTUNISMO....

SAUDAÇÕES

KWASINSKI (COORDENADOR DA ÁREA DE CIÊNCIAS DA NATUREZA E MATEMÁTICA DO CAMPUS RIO DE JANEIRO – POR ENQUANTO...)

4 comentários:

  1. Como ex-aluna do atual IFRJ, ex ETFQ conheço pessoalmente o professor KWASINSKI, companheiro de luta e que ajudou a construir muitas coisas dentro dessa instituição que, como tantos outros aparelhos, está sendo manipulada para servir aos interesses do capital e não da educação.

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  2. O texto não é ruim; mas, demonstra um desconhecimento inconcebível* acerca de políticas, direito e gestão pública, sobretudo de políticas educacionais. Mudanças no IFRJ são necessárias? Sim, certamente; mas, não com 'pseudos discursos marxistas', rasos, ultrapassados, superados. Lugar de Professor é em sala de aula (principalmente aqueles considerados bons, guerreiros) e não na gestão, esta é a primeira mudança necessária: profissionalização da gestão institucional.

    *Inconcebível por se tratar de um Professor EBTT, de instituição pública federal, que não conseguiu, sequer, compreender o significado de 'autonomia'. Toda autonomia é regulada e controlada. Autonomia não significa 'laisse faire'.

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  3. Acredito que não seja caso de desconhecimento de direito e gestão pública mas tão somente de discordâncias destes.

    Justamente por conhecer como a gestão pública do ensino vem sendo feita, sobretudo no IFRJ ( por se tratar de um docente que há tanto está por lá ) é que talvez tenha se sentido impelido a tentar lutar por coisas óbvias que devem ser mexidas. Só que sim, isso incomoda a muitos como ele mesmo citou no texto...

    Quanto ao discurso "raso e ultrapassado, pseudo-marxista" é de se questionar, pessoalmente discordo da afirmação do comentário acima.

    Antes de se tratar de qualquer alusão ao marxismo, o texto coloca ditames dos fundamentos mais básicos da educação, que deve sempre estar à serviço da formação de todo indivíduo. Impedir a participação coletiva da comunidade envolvida é a maneira mais fácil de perpetuar velhos erros e dar o pior exemplo sobre educar.

    Embora pareça um tanto filosófico demais o que escrevo, corroborando o texto publicado, não há pedagogia e ensino( nem gestão destes!) que estejam isentos de pressupostos filosóficos afinal, educar não é mudar o mundo, é transformar (ou não!)o homem que por sua vez atua neste mundo de coisas e de seres humanos.

    A gestão com participação da opinição de todos os envolvidos num sistema de ensino (voto universal) e também autônoma (sim, autônoma na acepção da palavra e não no conceito modernamente praticado) não só é lúcida e lícita como na verdade é o próprio exercício da educação mais básica sendo executada...

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