2011
foi um ano voltado para as discussões sobre educação. O primeiro semestre foi
marcado por greves do setor em todo país e manifestações estudantis como no
Chile. Na virada para o segundo semestre, nos deparamos com a deflagração de
uma greve histórica da educação do estado, o surgimento da Campanha pela
aplicação de 10% do PIB e, mais recentemente, a invasão da Polícia Militar no
campus da Universidade São Paulo.
Em
meio a essa onda de debates sobre as raízes do problemas educacionais do
Brasil, nos deparamos com mais um ataque silencioso, porém mordaz, do governo
em relação à educação pública. As
Parcerias Público Privadas.
Você
já ouviu falar? Não? Mas o nome soa bonito, não é verdade? Parceria dá idéia de
que vamos unir o que há de melhor em um e no outro para construir algo
potencialmente melhor.
No
entanto, infelizmente, a parte bonita fica só no nome mesmo Parcerias
Público Privadas nada mais são do que uma forma de concessão do poder público à
iniciativa privada para que ela explore um serviço estatal. Em outras palavras,
o governo abre mão de um DEVER para dar ao empresário um dos pilares da
OBRIGAÇÃO do Estado. O resultado dessa combinação não poderia ser mais nefasta.
Até o mais leigo dos debatedores já pode calcular como a iniciativa privada vai
gerir a educação: voltada para o lucro dos empresários. Aparentemente, pode
parecer mais um jargão sindicalista. Mas não é. O princípio das PPP’s na
educação não é novo. Ele já foi
implantado na Inglaterra, em Portugal e no Chile. E, em todos estes países as
experiências fracassaram. No Chile, diga-se de passagem, foi o elemento
detonador das rebeliões estudantis que ocorreram em nosso vizinho latino.
A
lógica é simples, porém perversa. O Estado passa anos a fio a cortar verbas da
educação – baseado em velhas justificativas já conhecidas – e “prova” para a
população que é incapaz de sustentar uma educação pública. Dissemina a falsa
concepção de “incapacidade de gestão”, de “elefante branco”, de “má qualidade”
e pinta a iniciativa privada como a salvadora, a “capaz” aquela responsável por
uma “gestão eficiente”. No entanto, a história mostra como esses elementos se
desenvolvem na prática. O resultado é
uma educação de péssima qualidade voltada apenas para o mercado de trabalho,
sem preocupação alguma com a formação humana e crítica do indivíduo. Sem falar
nos aspectos práticos de sucateamento estrutural e privatização de um setor
chave para a construção de uma sociedade.
Sob
esta perspectiva, o projeto da prefeitura consiste em, a partir da licitação
pública, formalizar contrato com empresas privadas para que construam com
recursos próprios Umeis e escolas. Em contrapartida, estas empresas irão
explorar os serviços de limpeza e manutenção das escolas construídas por 20
anos. Como ainda não se pode cobrar da comunidade por estes serviços em escolas
públicas estatais, a prefeitura irá pagar por estes serviços à empresa,
garantindo o pagamento e os juros do que ela gastou para construir a escola, o
valor do serviço prestado que a empresa determinar, mais uma taxa de lucro
pré-determinado em contrato. Taxa de lucro que deverá ser garantida a empresa
independente da quantidade de serviços prestados.
O
dinheiro que a empresa vai usar para construir as Umeis e escolas com pouca
margem de dúvida, virá do BNDES, ou seja dinheiro público. O dinheiro que a
prefeitura vai utilizar para pagar a empresa também é dinheiro público
legalmente destinado a educação. O lucro da empresa vai sair do salário dos
trabalhadores e da materialidade para atender as crianças.
Vejam
bem: a empresa X pega um empréstimo em um banco público constrói uma escola e a
prefeitura usa o dinheiro público para pagar o empréstimo que a empresa pegou,
mais uma taxa de lucro garantido. É ou não é um negócio da China?
Como
fica o dia a dia da escola. A empresa que construiu a escola tem o direito de
fazer a limpeza, a conservação e manutenção da escola em um contrato de 20
anos, com pouca possibilidade de revogação. Quanto menos ela gastar no serviço
mais lucro ela terá. O que será que vai acontecer? Imagine a situação do
banheiro da escola quebra, obrigatoriamente a empresa que construiu a
escola é que pode consertar mais
ninguém.
O
trem vai mais longe. Para piorar, não é só na educação que as PPPs estão em
pauta. Nas últimas semanas, foi aprovado em primeira instância, com um amplo
apoio na Câmara dos Vereadores, o PL 1728/2011, de autoria de Márcio Lacerda,
que autoriza a contratação de empresas privadas para prestação de serviços de
apoio e infraestrutura à Rede de Atenção Primária à Saúde. Isto representa um
duro ataque ao Sistema Único de Saúde, que tem como objetivo privatizar a saúde
em Belo Horizonte. Este projeto se soma aos projetos de implementação das PPPs
na área da cultura, das praças, dos estacionamentos, dos cemitérios, etc. Ou
seja, a cada dia que passa, a prefeitura abre mão dos serviços públicos e os
entrega de bandeja ao setor privado, que anda extremamente contente com essa
política, pois tem seus lucros garantido. É assim que Márcio Lacerda se torna o
melhor prefeito do Brasil.
Os
projetos 1903 e 1728 significam a privatização da educação e da saúde. Essas
medidas visam apenas garantir o lucro das empresas privadas, com a consequência
da precarização do serviço público e flexibilização dos direitos trabalhistas.
Portanto, somos contra esse projeto. E defendemos que seja investido 10% do PIB
na Educação Pública Já e 6% do PIB na Saúde. Além disso, somos contra as PPPs,
que significam a privatização dos serviços públicos, que beneficiam apenas os
empresários que têm seus lucros garantidos com o repasse do dinheiro público e
que, além de tudo, ainda são uma grande fonte de corrupção.
Fonte:
Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH
Fonte:
Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH
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