sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Monsanto e o Golpe no Paraguai

(Matéria de 23 de Junho de 2012 )

 2012 - Senado do Paraguai destitui o presidente Fernando Lugo
O presidente do Paraguai Fernando Lugo acaba de ser destituído do cargo pelo Senado. Votaram a favor da destituição 39 senadores, enquanto outros quatro se declararam contra. Dois parlamentares estavam ausentes. O processo de impeachment do presidente paraguaio foi iniciado na última quinta (21).
Entre as razões apontadas pelos paralamentares que entraram com o pedido de impeachment estão a ligação de Lugo com movimentos sociais atuantes no campo e o conflito ocorrido em uma fazenda no Nordeste do país, no qual morreram 17 pessoas. “Os acontecimentos trágicos não podem ser caractrizados como um mau desempenho do presidente”, declarou o advogado Adolfo Ferreiro, um dos que representaram Lugo em sua defesa no Senado.

Lugo é acusado de instigar a invasão de terras no país. Os deputados também o acusam de submeter as forças de segurança a ordens dos movimentos sociais. Com isso, os parlamentares dizem que o presidente é incapaz de conter uma onda de violência no país.

2010 – Relembrando

Em meados de agosto o Serviço Nacional de Qualidade e Sanidade Vegetal e de Sementes (Senave) do governo paraguaio iniciou uma série de ações de fiscalização e destruição de lavouras ilegais de milho transgênico no país.

A primeira ação se deu numa propriedade no estado de Alto Paraná, onde foram destruídos 44 hectares de milho transgênico de propriedade de um agricultor “brasiguaio”, a 90 km da capital Ciudad del Este. O milho, que estava em ponto de colheita, foi totalmente triturado por um rolo-faca, de modo a inviabilizar seu uso como semente. A variedade Bt+RR (tolerante a herbicida e também tóxico a lagartas) havia sido contrabandeada do Brasil.

As ações continuaram ao longo da semana, resultando na destruição de mais de 100 hectares de milho ilegal.

Miguel Lovera
 A reação veio a galope. Logo foram publicadas reportagens com manifestos indignados de representantes do agronegócio paraguaio, criticando as ações e chamando de retrógrado o presidente do órgão, Miguel Lovera.

Alfredo Jaeggl
No auge dos protestos, por iniciativa do senador liberal Alfredo Jaeggli, o Senado paraguaio aprovou uma declaração ao Poder Executivo instando-o “a paralisar as intervenções do Senave com relação ao milho transgênico até que se atualize a normativa atual, conforme o desenvolvimento científico do produto” (em outras palavras, “até que o governo libere definitivamente o milho transgênico”).

Do outro lado, organizações camponesas também se manifestaram, prestando apoio ao Senave, argumentando quanto aos riscos do consumo do produto e em defesa da semente nativa. Pediram ainda que se declare “emergência fitossanitária” pelo descumprimento da legislação que proíbe expressamente o milho transgênico.

Em 28 de agosto, em seguida à manifestação do Senado, Lovera foi a público declarar que o órgão prosseguiria com a fiscalização e a destruição do milho ilegal. A declaração foi feita numa coletiva de imprensa logo depois de Lovera ter-se reunido com o presidente Fernando Lugo. Segundo Lovera, o presidente apoia o trabalho realizado pelo Senave e recomendou que ele “siga cumprindo a lei”, como fez até o momento.

A legislação paraguaia permite o cultivo de algumas variedades de soja transgênica, mas não de milho. Recentemente, entretanto, o Ministério da Agricultura do país publicou uma resolução declarando ser de interesse estratégico a experimentação com sementes de milho transgênico em território paraguaio, o que aconteceria sob a supervisão do Instituto Paraguaio de Tecnologia Agrária.

Esta semana, a Aliança pela Biodiversidade na América Latina e a Rede por uma América Latina Livre de Transgênicos enviaram uma carta aberta ao ministro da agricultura paraguaio, Enzo Cardozo, expressando profunda preocupação com relação à decisão, uma vez que existe vasta informação científica demonstrando que, após a introdução destas variedades no campo, torna-se impossível deter a contaminação genética das variedades convencionais, crioulas e tradicionais de milho, uma vez que trata-se de uma espécie de polinização aberta.

Nós brasileiros conhecemos bem esta história da “criação do fato consumado” e podemos imaginar as pressões que o governo do Paraguai está sofrendo no sentido de atropelar as avaliações de biossegurança e autorizar “na marra” as variedades transgênicas de milho.


2010

ASSUNÇÃO, Paraguai - "Em qualquer país civilizado moderadamente se você pulverizar seus pesticidas sobre as pessoas, você basicamente irá para a cadeia", disse Miguel Lovera, chefe da agência do Paraguai aplicação agrícola. "Neste país que não era o caso. Ela ainda pode ser o caso em muitos lugares no país que podem ser de pulverização em lugares errados, nas pessoas erradas, nos animais errados - mas nós estamos lá fora, para pôr fim a esta situação ".

Lovera está debaixo de fogo para a destruição da agência de 44 hectares de milho transgénico que estavam sendo cultivadas ilegalmente. Soja transgênica é atualmente a principal exportação do país, e vastas áreas da zona rural foram derrubadas pelos proprietários estrangeiros para abrir caminho para a cultura controversa, mas até agora a soja transgênica é o único permitido para a produção.




2011- MONSANTO

Com um território pouco maior que o estado do Mato Grosso do Sul e uma área agricultável de 850 mil hectares, o Paraguai é o maior cliente da Monsanto do Brasil e recebeu, apenas em 2011, mais de 177 mil sacas de milho em 41 processos de exportação. 
Pablo de La Fuente -
Líder de Negócios da
Monsanto no Paraguai
“O Paraguai se encaminha rapidamente em direção à biotecnologia e vai ficar atrativo não só para a Monsanto, mas para todas as companhias de milho. Aumentar nossa presença hoje, com a ajuda dos híbridos brasileiros, pode ser determinante para continuarmos crescendo e ganhando participação”, explica Pablo de La Fuente, líder de Negócios da Monsanto no Paraguai. O executivo lembra que o excelente volume exportado para o país se deu por conta da qualidade do portfólio brasileiro e à semelhança com clima e solo da região do Paraná. 

Com o apoio do resultado obtido com a comercialização dos produtos brasileiros, que chegam ao Paraguai por vias terrestres, o país inaugurou seu primeiro Centro de Distribuição. “Agora podemos receber as sementes em menos tempo, evitando o congestionamento do fim de ano nas alfândegas e garantindo a entrada mais rápida nas nossas lavouras”, cita de La Fuente.



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