Diante da crescente insatisfação popular frente à inflação, da queda dos salários e aposentadorias, das suspensões das atividades, do ressurgimento e subida do dólar paralelo e outros sintomas da entrada da crise da economia mundial no país, o governo de Cristina Fernández de Kirchner está fazendo os maiores esforços para manter sua popularidade.
Para isso trata fundamentalmente de se mostrar como defensora da soberania nacional, enfrentando as empresas e grandes patronais do campo. Começou fazendo duras declarações contra o envio de navio de guerra às Malvinas e contra a visita do “principezinho” [no caso o príncipe inglês]. Permaneceu com a posse de 51% das ações da YPF. Continuou com os aumentos de impostos aos patrões do campo na província de Buenos Aires. E agora propõe a “pesificação” com o “bloqueio” cambiário.
Assim como defendemos o direito da Argentina sobre as ilhas Malvinas, sobre o petróleo argentino, contra as multinacionais e o direito do estado argentino de se apropriar da renda do campo por intermédio dos impostos, defendemos também a moeda argentina como um instrumento fundamental de soberania nacional.
O que significa para o país perder o controle de sua moeda pode se ver com toda clareza no que acontece hoje com a Grécia e outros países europeus. Graças a sua permanência no euro, a economia grega está completamente dominada pelos grandes bancos alemães, franceses e norte-americanos.
A partir da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional –conhecidos como a Troika– funcionários nomeados pelas principais potências impõem à Grécia (assim como a Espanha, Portugal, Irlanda, Itália) planos de ajuste cada vez mais duros para pagar sua dívida pública. A Grécia necessita romper com o euro e voltar à sua moeda, o dracma, como um passo para recuperar o direito de decidir sobre sua economia.
Da mesma forma, a “pesificação” é necessária para defender a soberania argentina. A pergunta é se as medidas que impõe o governo kirchnerista defendem de fato a moeda nacional. Ou se, como no caso das Malvinas, o petróleo e os impostos ao campo, as medidas do governo são completamente insuficientes e não mudam realmente o fato de que nossa moeda, assim como nosso território, nosso campo, nossa economia, nossas finanças, estão em grande medida controladas pelo imperialismo e suas multinacionais.
A causa da “dolarização” da economia não é a cultura dos argentinos a respeito do dólar, como afirma Cristina. Suas verdadeiras e mais profundas causas são a dívida externa, o saque das multinacionais, dos bancos, do sistema financeiro e o ingresso da crise econômica mundial no país. O imperialismo e suas multinacionais não só querem que a crise seja paga pelos trabalhadores de seus próprios países. Querem também que a paguem os trabalhadores e os povos dos países semicoloniais e coloniais.
As medidas com as quais o governo procura controlar a venda de dólares à classe média nos bancos e nas casas de câmbio e que travam todas essas operações, significam muito pouco frente às imensas somas de dinheiro que saem do país para pagar a dívida externa, para as finanças e para o comércio exterior, e das que saem como envio de lucros das empresas multinacionais que saqueiam nossos recursos e produzem no país.
Apesar de terem passados todos os prazos fixados para a moeda local – como prometeu fazer a presidenta com seus três milhões de dólares acumulados – e as propriedades se venderam em pesos, continuaria a “dolarização” da economia imposta pelo pagamento da dívida externa, pela remessa de lucros das multinacionais e bancos estrangeiros, pelo controle dos monopólios do comércio exterior e pelas exigências que nos fazem os países imperialistas para sair da crise da economia mundial.
Para defender o peso são necessárias medidas muito mais de fundo, que, em nossa opinião, são as que apresentamos abaixo.
As medidas de fundo para defender o peso
A defesa da moeda nacional necessita das seguintes medidas de fundo:
• O não pagamento da fraudulenta dívida externa.
• Expropriação sem indenização e sob controle dos trabalhadores das multinacionais que controlam as estruturas fundamentais da produção agropecuária, mineradora, industrial e dos serviços.
• Estatização sob controle dos trabalhadores do sistema bancário, financeiro e do mercado de câmbios.
• Estatização sob controle operário do comércio comercio exterior.
• Ruptura de todos os pactos, como os Tratados Bilaterais de Investimento (TBI), que limitam a soberania argentina.
Estas mediadas permitiriam que se terminasse com o saque imperialista e assim recuperasse a soberania monetária.
Com o não pagamento da dívida externa e a expropriação dos monopólios que controlam a economia e sua estatização sob controle operário, terminaria o aumento dos preços pelas multinacionais que dominam o mercado interno e a emissão de pesos que o governo faz para comprar dólares para pagar a dívida externa, que são as duas principais causas da inflação.
Com estas medidas se acabaria também com a “dolarização”. Ao tirar das multinacionais e dos bancos estrangeiros o controle da economia e terminar com sua remessa de lucros e com seu controle do comércio exterior, terminaria também com sua enorme demanda de dólares. O manejo das divisas para o comércio exterior ficaria exclusivamente nas mãos do Estado. E o peso ficaria como única moeda de circulação interna e de todas as operações econômicas e financeiras do país.
Para que estas medidas de fundo possam ser aplicadas, necessitamos da mais ampla unidade do movimento operário. Que todos os trabalhadores e suas organizações as assumam como próprias, exijam-nas do governo e façam parte da mobilização por salário, contra a precarização, por melhores condições de trabalho, por educação e saúde públicas e gratuitas.
Se não as adotarmos como próprias e não as unirmos ao conjunto de nossa luta, a crise da economia mundial que já entrou em nosso país, vai significar o mesmo que para os trabalhadores europeus: brutais planos de ajuste contra a classe operária e as massas trabalhadoras e bilhões de dólares para os grandes capitalistas dos bancos, das finanças, da indústria, do comércio, da agricultura e dos serviços.
Tradução: Suely Corvacho
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