quinta-feira, 8 de março de 2012

Itália: A Luta dos operários do metrô - Entrevista



  Falaremos hoje de uma luta operária, uma das tantas que emergem, aqui e ali em nosso país, que se mantêm fragmentadas pela burocracia sindical que trabalha ativamente para não unir as lutas numa perspectiva nacional.
Depois a inauguração (há menos de dois meses) da Linha 6 do metrô de Napoli (aquela que liga a praça Mergellina à praça Municipio) chegou a noticia da demissão de 88 operários funcionários da Riviera Scar (líder Ansaldo), que a empresa manda para casa porque a Prefeitura não paga (o contrato tem o valor de 160 milhões). Em protesto os operários subiram em 15 de fevereiro sobre o guindaste como forma de resistência. Temos falado com alguns dos protagonistas dessa luta que se desenvolve na Napoli de (Luigi) de Magistris[1], um modelo de toda a esquerda governista (e sustentado ativamente) que aspira a retornar também no próximo governo nacional.
Vocês são trabalhadores de quais empresas e o que reivindicam?
Somos trabalhadores da Linha metropolitana de Napoli. A crise econômica que está golpeando a Itália se reflete também sobre nós. A prefeitura não paga e a empresa joga sobre as costas dos trabalhadores os seus custos, demitem os trabalhadores. A nossa empresa disse que não está satisfeita economicamente e nos demitiu. Deu-nos um período para buscar uma colocação, mas há um problema: o trabalho não está ainda terminado, e o contratante não é pago. Há uma outra questão que é o sistema de regime de subcontratação, com o qual dividem os trabalhadores que trabalham no mesmo canteiro de obras. Eu, por exemplo, sou de uma empresa mãe, e tenho (melhor, tinha) um salário, e ele [e indica um colega que participa da entrevista] que é empregado de uma empresa que trabalha com subcontratação, ganha cerca de metade do que eu ganhava.
Então o que fizeram?
Para atrair a atenção seguimos o exemplo das outras lutas em curso: aumentamos o movimento sobre a grua (guindaste) do canteiro.
Quando começou a sua mobilização?
Nós comunicamos que havia uma medida disciplinar contra o ato de 22 de dezembro de 2011. Houve uma ruptura do acordo em 10 de janeiro. Depois de 10 de janeiro iniciamos a luta e ficamos em assembléia permanente. Começamos a participar da luta dos 88 trabalhadores, uma parte deles, há 15 dias aceitou a mobilização, ficamos em 36. Agora veremos o que acontece. Mas não temos intenção de “abaixar a cabeça”.
Enquanto os 88 operários foram demitidos, Anna Donati, assessora da junta dos transportes de De Magistris, na ocasião da inauguração da Linha 6 disse na TV que a administração “crê fortemente” no transporte público coletivo e se empenha a encontrar recursos. Fez-lhe coro Giannegidio Silva, presidente do metrô de Napoli, no mesmo dia da inauguração da Linha 6, dizendo que “o desenvolvimento do transporte urbano em Napoli é uma realidade”.
Evidentemente estes dois senhores, junto ao prefeito De Magistris, não são usuários dos transportes públicos. A eles não interessa a realidade de esgotamento e a precariedade das condições dos transportes napolitanos. Por trás das falsas palavras dos administradores se escondem demissões e precariedade do trabalho.
A luta envolve não apenas os operários que estão sobre a grua, mas também trabalhadores das limpeza metropolitana que fizeram greve porque o pagamento dos salários atrasou.
Enquanto isso a junta do “progressista” De Magistris (que participa com assessores da Refundação Comunista) aumenta as tarifas. Para alguns, a faixa de aumento chega a 45%. Tudo em uma cidade onde o indice de pobreza relativa e absoluta mais que duplicou nos últimos anos (segundo o último dossiê regional sobre a pobreza da Caritas). A “nova Napoli” da qual se fala é pura ficção científica, que dissimula a verdade na esperança de evitar a indignação, a raiva e a mobilização de milhares de trabalhadores e jovens. É a mesma coisa que acontece com o governo Monti, que ataca os trabalhadores, os pensionistas, os jovens, os imigrantes, enquanto difunde as mentiras sobre “sacrificios para todos” no interesse de um suposto “bem coletivo”.
Mas todos eles devem acertar as contas com as lutas dos trabalhadores, com a coragem dos operários, como aqueles que subiram sobre aquela grua e sobre tantas outras gruas, torres, tetos.
É mais atual do que nunca a mensagem que Marx e Engels escreveram no Manifesto: “Que as classes dominantes tremam com a idéia de uma revolução comunista!”
Derrubemos o governo Monti! Derrubemos a junta De Magistris! Que os trabalhadores governem, sob a base dos interesses da grande maioria da população”.
Escrito por Rogério Freitas -  Pdac, regional de Napoli.

Tradução: Nívia Leão.


[1] Prefeito de Napoli.

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